quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Que pretendemos nós?

Que o mundo dá voltas ninguém duvida. Mas com tanto tempo correndo assim, será que os jovens continuam os mesmos?
Não que eu seja contrária a mudanças, mas certos valores jamais devem ser perdidos. Resumo tudo numa frase: pai e mãe são sempre pai e mãe, e devemos respeito a eles por toda nossa vida. Mas, bem ao contrário dessa idéia, parece que às vezes o mundo se perde. Filhos matando pais por dinheiro (e o inverso também, nem se o diga, mas como jovem, abordo na perspectiva de minha geração), que não sabem mais conversar com eles, que morrem de vergonha deles, que os ignoram, que perderam qualquer tipo de respeito mesmo.
Furtando-me um pouco do pensamento de Mark Bauerlein, mas sem dimensionar especificamente para os "estragos da era digital", concordo que os filhos estão perdendo muito deixando de ter momentos pessoais e momentos em família.
Conto-lhes uma historinha.


Ainda de pouca idade, o menino sobre sua bicicleta andava pelas ruas de sua cidadezinha, cujo nome me escapa à memória. Era uma das pequenas cidades próximas a San Pedro de Atacama, no Chile.
Fato curioso foi o menino ter cruzado a vista de três pessoas ao mesmo tempo, minha, de minha mãe e de meu irmão, a quem a foto do post pertence.
Nossa atenção voltada a ele foi tão grande que o acompanhamos até que houvesse o rompimento de nossa expectativa.
Naquele dia me senti como quando pegamos um jornal e damos uma olhada nas tirinhas. Você passa pelo primeiro quadrinho, o fato começa a ser narrado visualmente, ou até com a ajuda dos diálogos; segundo quadrinho uma evolução esperada do primeiro; e o terceiro, aquela quebra súbita causada no leitor.
O garoto, não sei por qual razão (freio quebrado, desconhecimento de seu uso), utilizou-se de um meio um tanto inusitado para parar sua bicicleta. Nada de pôr os pés no chão. Escolheu um bom muro (e lá os muros são verdadeiros empilhados rústicos de tijolos feitos de terra e palha, cujo nome é "adobe"), diminuiu a velocidade parando de mexer os pés sobre os pedais, e o pneu encontrou a colisão certa.
Nós três demos uma risada uníssona, já que simultânea, e foi impossível evitar qualquer tipo de comentário.
Depois, já esquecidos do assunto, encontrávamo-nos dentro do carro, prontos para o próximo ponto turístico, outra localidade. Eis que o menino nos cruza a passagem novamente.
Voltava ele com uma sacolinha pendurada no guidão.
O garoto podia bem ter acabado de fazer a compra especial do mês, com aquele dinheirinho que guardou por um bom tempo, já planejando exatamente em que iria gastá-lo. Ou então, numa segunda hipótese - cuja versão me faz bem acreditar - com todo o amor que devia receber em sua casa - humilde mas provavelmente rica em carinho - foi mais um daqueles favores que o filho faz pela mãe, indo ao mercadinho comprar frente à irresistível solicitação e uma bela oportunidade de fazer o bom e velho papel de filho querido - já meio esquecido nas grandes urbanizações.





Simples narração minha, que gosto de contar para mostrar a simplicidade que ainda existe na humanidade.
A pergunta que não quer calar é: onde estão os muros que vamos escolher para freiar nossos comportamentos sem limites? Que coisa é essa (e chamo de coisa mesmo) que silenciosamente nos tira do âmbito familiar, nos tira os momentos de conversa, aquela, entre pai e filho? Essa coisa invisível que faz tudo perder sentido. Afinal, quem pretendemos ser de verdade? Um falso cognato cairia bem aqui. O verbo "pretend", do inglês, poderia substituir perfeitamente minha interrogativa, sem fazer perder a ironia que lhe assim quis. Quem nós fingimos ser? E completo: e para quem fingimos ser?
Enquanto nós mesmos não escolhermos a parede para nossos freios, ela mesmo irá surgir, como "uma pedra no meio do caminho", já bem notara Carlos Drummond de Andrade.
Qual será não sei responder. Mas ela sempre aparece.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Reabertura do Blog

Sendo hoje uma data muito especial, elegi-a como data de reabertura do blog, até porque, já estava na hora de retomar as rédeas, e desenvolver um pouco mais minhas ideias.
Durante o tempo em que o Blog esteve fechado, ganhou mais um link (O caderno do Saramago), mas infelizmente, depois de muito mexer e remexer, o visual foi mantido.
Para a "celebração" do reinício de minhas exposições, um poema de Alberto Caeiro:

Antes o voo

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rastro,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar não é ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Que instauremos, então, um verdadeiro NOVO começo! Bem-vindos novamente!