Todos se
despediam, cada um seguindo para seu carro. Os motoristas, já ao lado da porta da
condução, acenavam uns aos outros em sinal de adeus; os caronas, por seu turno,
metiam, quase apressadamente, as mãos nas maçanetas, abrindo as demais portas
dos veículos.
Ela, no entanto,
aguardava, a pouco mais de um metro do automóvel, seu amigo destrancar a porta.
Ele enfiou a chave e a rodou, sorrindo-lhe gentilmente. Ela agradeceu com
um meneio e entrou no carro, batendo de leve a porta com a ajuda dele. Se não
fosse pela porta, suas mãos teriam se tocado. Ele deu a partida, e todos deixaram
para trás o sítio e as diversões do dia, rumo à estrada poeirenta.
A noite estava
estrelada. Um céu inteiro formando um tapete de luzes cintilantes, espiando de
cima a insignificância dos seres que as fitavam, desenvaidecidos.
Ela ficou
deslumbrada. Não via o firmamento carregado assim de brilho desde que voltara a
morar no sul, pensou consigo. Seu amigo, percebendo ou não o fascínio da
garota, fez um breve comentário sobre a beleza de tudo aquilo. E acrescentou,
rapidamente: “vou fazer algo que não se deve fazer”, e desligou as luzes do
farol, ainda guiando o carro. Assim, as estrelas puseram-se a reinar
sozinhas e magistralmente naquele momento em meio à pretensa escuridão.
Foram os
segundos mais prazerosos que ela teve em muitos anos, a despeito da condução
pouco defensiva. Ela encantou-se instantaneamente. Não tinha muita certeza se
era pela vista privilegiada, se pela postura de seu amigo em lhe propiciar tal
privilégio, ou se por ambas as situações juntas. De uma coisa sabia: naquele
momento, algo dentro dela havia despertado. E então, a noite, engolida por
infinitas luzes, tornou-se memorável; os faróis novamente acesos, estavam os dois de volta à
realidade. Para ela, tarde demais. Era amor.
De sterrennacht - Vincent van Gogh |
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