quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Feminismo? Que nada!

Quem já não cansou a mente relembrando as memoráveis histórias infantis em que havia uma rainha mandona e um rei sempre pronto para sua submissão?
O caso mais exemplar que posso citar é no desenho da versão "disneyniana", Alice no país das maravilhas. Uma rainha que não podia ser contrariada, e um rei frouxo, digamos, pra não chamá-lo ingênuo ou tonto.
A imagem que consta ao lado é exatamente de Alice no país das Maravilhas, mas do livro de L. Carrol.
A grande questão é: até no jogo de xadrez surge essa grande sobreposição da rainha frente ao rei. Afinal, a rainha anda mais que o rei, embora sua ausência do tabuleiro não implique necessariamente uma vitória (ou derrota, pra quem tem sempre a perspectiva do perdedor ou mesmo negativista) certa.
Feminismo está totalmente fora de cogitação.
A ideia mais plausível que li até hoje encontra-se em O Homem que calculava, de Malba Tahan. Em seu capítulo XVI é narrado a lenda sobre a origem do xadrez. Deixo-lhes alguns trechos:

Difícil será descobrir, dada a incerteza dos documentos antigos, a época precisa em que viveu e reinou na Índia um príncipe chamado Iadava, senhor da província da Taligana. Fora, porém, injusto ocultar que o nome desse monarca vem sendo apontado por vários historiadores hindus como um dos soberanos mais ricos e generosos de seu tempo.
[...]
O rei Iadava possuía - pelo que nos revela a crítica dos historiadores - invulgar talento para a arte militar; sereno em face da invasão iminente, elaborou um plano de batalha, e tão hábil e feliz foi em executá-lo que logrou vencer e aniquilar por completo os pérfidos perturbadores da paz do seu reino.
O triunfo sobre os fanáticos de Varangul custou-lhe, infelizmente, pesados sacrifícios: [...] lá ficou no campo de combate o príncipe Adjamir, filho do rei Iadava, que patrioticamente se sacrificou, no mais aceso da refrega, para salvar a posição que deu aos seus a vitória final.
[...]
- Meu nome - respondeu o jovem brâmane - é Lahur Sessa [...] Deliberei, pois, inventar um jogo que o pudesse distrair e abrir em seu coração as portas de novas alegrias. É esse o desvalioso presente que desejo neste momento oferecer ao nosso rei Iadava.
E explicado a seguir a função de casa peça do jogo o rei indaga:
- E por que é a rainha mais forte e mais poderosa que o próprio rei?
- Mais poderosa - argumentou Sessa - porque a rainha representa, nesse jogo, o patriotismo do povo. A maior força do trono reside principalmente na exaltação de seus súditos. Como poderia o rei resistir ao ataque dos adversários se não contasse com o espírito de abnegação e sacrifício daqueles que o cercam e zelam pela integridade da pátria?
E, após fazer o teste, jogando, chega o rei à conclusão:
Não creio que o engenho humano possa produzir maravilha comparável a este jogo interessante e instrutivo! Movendo essas tão simples peças, aprendi que um rei nada vale sem o auxílio e a dedicação constante de seus súditos. E que às vezes o sacrifício de um simples peão vale mais, para a vitória, do que a perda de uma poderosa peça.

Pois é, eu achei bastante interessante isso. Nada de feminismo. Nesses trechos encontrei um equilíbrio necessário. A rainha mais poderosa no sentido de uma força maior de mobilidade. Mas é exatamente sua ação constante, juntamente a seus súditos que permite ao rei, encravado em seu trono, exercer sua figura de protegido, de admiração por um povo que se sacrifica por ele.
A conclusão aqui é minha. E fecho pensando da seguinte forma. Se o rei andasse tanto quanto a rainha, não daria a ideia de um reino propriamente dito. Afinal, um rei que se locomova a torto e direito não parece estar assim tão preocupado com seu reino. E se à rainha fosse determinada ficar tão mobilizada quanto o rei, seria um verdadeiro machismo permitir que o jogo não acabasse se o opositor lhe comesse (risos, tá vendo o equilíbrio agora?). Realmente, considero o xadrez o jogo mais perfeito do mundo!

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