sábado, 16 de junho de 2012

Sensações

Outro dia um amigo recordou-me de uma certa "fobia" minha. Não vou aqui revelá-la. Que isso fique reservado àqueles que tiverem a oportunidade de preencher um espaço e um tempo mais longo de suas vidas do que a curta duração da leitura vertical deste post.
Mas essa sensação de pânico, que nunca consegui descrever muito bem ao certo, que me fez já tirar risadas alheias, que eu também nunca soube se riram da incômoda sensação de incompreensão ou se por me acharem maluca mesmo, ah, essa sensação inextricável de não sair do meu psicológico para que os outros pudessem entender, ela se dissipou.
Eu lia Borges. E ele soube explicá-la. Não só por mim, mas por diversas outras pessoas.
Eis aqui: 
Desde aquele instante, senti ao meu redor e em meu corpo obscuro uma invisível, intangível pululação. Não a pululação dos exércitos divergentes, paralelos e afinal coalescentes, mas uma agitação mais inacessível, mais íntima, e que eles de algum modo prefiguravam. 
Outro trecho: 
Voltei a sentir aquela pululação de que falei. Pareceu-me que o úmido jardim que rodeava a casa estava saturado até o infinito de pessoas invisíveis. Essas pessoas eram Albert e eu, secretos, atarefados e multiformes noutras dimensões de tempo. 

Pois é. Talvez meu pavor derive desta sensação de muitos tempos (ou dimensões) em que o hoje impossível fosse outrora possível. E isso me assusta. 

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Trechos extraídos do conto O jardim de veredas que se bifurcam.


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