quinta-feira, 1 de maio de 2008

Em busca do talento perdido

Já parou pra pensar em qual seria seu talento?
Bom, de verdade, eu não descobri o meu. Mas desde a primeira vez em que me elogiaram a escrita, passei a acreditar que era esse o meu talento: escrever. E já faz alguns bons anos que isso aconteceu.
Tudo bem, a letra deve ter melhorado, o vocabulário aguçado, a gramática quase impecável (pelo menos nas situações formais). Mas acho que em algum lugar estacionei, e não consigo lembrar onde pus esse "maldito carro da originalidade".
Tenho minhas próprias frases que gosto. Infelizmente não sei nenhuma de cabeça pra citar. Mas pode ter certeza, muita coisa que escrevo vem dos livros que leio. E serei franca, sou viciada em leitura, mas gosto de tirar vantagem disso. Gosto de dizer que já li esse e aquele livro. É, porque essa é uma das grandes sensações de se ler. Gosto de citar tal e tal autor, tal e tal frase, de reinterpretar a meu modo e aos meus ajustes a "moralzinha" por detrás da história. Gosto de perceber as pequenas críticas escondidas que os autores nem sempre se dão conta de terem passado. Gosto de contar quantos livros já li. Mas pobre dessa criatura orgulhosa. Nunca escreveu um livro sequer! Não tem sequer um poema do qual se orgulhe. Gostar até gosta - mas quantos já não deletou sem dó e remorso algum?
E os contos, então? Todos, uma bela porcaria.
As redações? Dissertações? Ai, eu sei lá! Sei as notas que tirei, porque gosto dos números - sempre tão quantitativos - mas eu sei lá o que neles escrevi. Não lembro. É possível escrever bem sem nem sequer saber qual é minha opinião?
Acho que o "carro" ficou estacionado em algum livro sobre os antigos pré-socráticos, entre os sofistas, os donos da arte, da retórica e da eloquência. Entre as célebres máximas de "o homem é a medida de todas as coisas".
Devo ter ficado tão preocupada em escrever bem que esqueci de fazer valer o que realmente penso.
E o que é que penso?
Penso que é realmente difícil escrever. Penso que o homem quis dar nome a tudo, e assim, tudo simplificar; mas que ele tem medo de usar suas palavras. Porque uma hora ele vai ver que não fez o suficiente delas.
Vai enxergar que muitas coisas não receberam nome. Quem muitas coisas diferentes têm o mesmo nome. Que tem medo de pronunciar alguns desses nomes. Exemplo: amor, morte, Deus, sorte, felicidade, responsabilidade, envelhecer, riqueza, só pra citar.
Penso que não basta conhecer palavras. Que de nada as servem se não se pronuncia o que se carrega como convicções pessoais.
Penso que não basta saber falar ou escrever bem, quando não se é bom ouvinte ou bom leitor.
Penso que, se o silêncio não diz nada, muito menos dizem as palavras que não retratam a verdade. A verdade de cada um.

4 comentários:

Carla Menezes disse...

Uma vez li numa dessas "agendas da tribo" uma frase cujo autor não me lembro, mas que me marcou o conteúdo: "Os clássicos eram tão bons porque não tinham os clássicos para atrapalhar." Concordo em parte, acho que a leitura fortalece o caráter cultural, além de fornecer ferramentas para uma boa escrita - isso vc já tem! Por isso, que bom que temos autores brilhantes para ler! Por outro lado, isso pode acentuar a auto-crítica das pessoas e impedí-las de mostrar seu talento, deixando-o estacionado.
Por isso, independente do que seja, ESCREVA! rsrsrs

=***

Unknown disse...

Sim, na verdade nunca me impediu de escrever ;)
É só que, às vezes, dá medo de ser criticada, porque eu mesmo sou muito crítica já comigo mesma.
Um beijo!

Leonardo Ueda disse...

Escrever demanda prática. Assim como pra desenhar, demanda prática. Some isso ao fator "vontade" e "perserverança" que você melhora em tudo. Claro que quanto mais novo tiver esses hábitos, mais fácil fica pra aprender e aperfeiçoar.

Já quis ter múltiplos talentos e hoje vejo que não é tão fácil. Por isso, foco naquilo que eu acho que posso melhorar. Assim como você, gosto de escrever, alguns já elogiaram um pouco minha escrita. Gostaria de praticar mais o traço artístico. Admiro demais os desenhos de amigos e da minha namorada, você sabe! =) Existem uma dualidade no meu curso onde alguns dizem que essencialmente o designer não precisa saber desenhar, outros dizem que sim.

Gostei do comentário final da Carla. Deveria todos colocá-lo em prática. "(...)independente do que seja, ESCREVA!"
E por isso eu escrevo as coisas mais aleatórias no meu blog. Eu deveria rabiscar qualquer coisa no papel também pra desenhar cada vez mais! Faz mais de 1 ano que não arrisco fazer isso direito! =/

Beijão!

caju disse...

Eu ainda não descobri meu talento. Acho que meu talento é não ter talento algum, rs.
Gostei do seu blog.
Um bom abraço.